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Blog do João Renato

Ponto da Empada: tradição do salgado segue viva em BH

João Renato

03/07/2018 14h19

A produção é frequente e as empadas são sempre quentinhas

Musa dos escritores de Belo Horizonte, a empadinha do Trianon, bar que ficava na rua da Bahia nos anos 20, fez história. O salgado, com recheios de galinha, palmito ou camarão fazia a companhia para chopes e embalava discussões de gente como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Murilo Rubião e Pedro Nava. Este último descreveu assim o quitute: "As mais suntuosas empadinhas que já comi no mundo. Eram pulverulentas apesar de gordurosas, tostadas na tampa, moles do seu recheio farto. Desfaziam-se na boca. Difundiam-se no sangue".

O Trianon, obviamente, não existe mais, substituído por um prédio pesado e feioso em uma rua da Bahia cada vez menos boêmia. Mas a tradição do quitute segue viva na capital mineira, onde alguns dos melhores exemplares do salgado podem ser encontrados na lanchonete Ponto da Empada, no tradicional Mercado Central. Não é complicado achar a loja, nos labirínticos corredores do centro de compras. É só procurar a aglomeração, que invariavelmente, se acumula na porta.

Não tem fila: o único jeito de ser atendido é encostando no balcão

Essa multidão vai em busca do salgado que, graças ao grande movimento, é sempre quentinho e recém saído do forno. Não há lugar para se sentar, nem esquema de filas ou senha. O jeito é mesmo encarar a bagunça, chegar ao balcão e pedir a sua empada, para comer em pé, no corredor mesmo. O preço é fixo, R$ 4, independentemente do recheio escolhido. Uma das que mais saem é a empada feita de queijo da serra da Canastra, que usa o ingrediente comprado nas bancas vizinhas. Ela não tem tampa, permitindo que seu recheio cremoso e suave dê uma leve tostada ao forno.

Inspirada no tira-gosto clássico do Mercado Central, a que leva um recheio de carne, jiló e bacon pode parecer pouco ortodoxa. Mas o controverso legume praticamente não apresenta um amargor, o que poderia afugentar os mais sensíveis, e surpreende na boca. Outra campeã de pedidos é a clássica com recheio de frango com azeitona, que pode ser acompanhado de bacon, catupiry, palmito ou cheddar.

O recheio de jiló, carne e bacon é generoso e consistente

O cardápio, que fica afixado em uma das paredes, também lista pedidas como bolonhesa, bacalhau, camarão, milho com parmesão, napolitana e carne seca com catupiry. Em todas, se destaca a massa, firme, sem ser esfarelenta, e curiosamente leve, o que torna possível devorar três ou quatro empadas sem que surja o famoso empazinamento. O tamanho também é o ideal, suficiente para resolver o assunto em três ou quatro mordidas. Atenciosos, os atendentes costumam oferecer prato e garfo descartáveis quando o salgado acabou de sair do forno, para evitar que os clientes se queimem com o vapor que sobe do recheio quente.

As opções doces também marcam presença e fazem às vezes de sobremesa. A mais solicitada é a de queijo com goiabada, que usa o mesmo Canastra da sua versão salgada e recria, dentro da forma, a clássica combinação Romeu e Julieta.

Vale ainda a dica de chegar cedo, já que, depois das 16h, os sabores mais concorridos já foram todos vendidos – e não costumam ser repostos no fim do dia.

Vai lá
Ponto da Empada
Avenida Augusto de Lima, 744 – LJ.186 – Mercado Central – Centro
Tel: (31) 3274-9570

Sobre o autor

João Renato Faria é jornalista de Belo Horizonte, atualmente no jornal O Tempo, e com passagens por Portal Uai, Estado de Minas e revista Veja BH. Gosta de descobrir novidades gastronômicas pela cidade, de música pesada, de rock instrumental e novidades da cena independente. Tem a compulsão de comprar livros mais rápido do que consegue lê-los. Já pensou em se mudar de BH, mas por enquanto a cidade é o único lugar com um feijão-tropeiro decente.

Sobre o blog

A música e a gastronomia de Belo Horizonte são o foco do blog. Os posts abordam tendências sonoras, eventos, atividades de casas de shows e a movimentação da cena independente. Os textos também falam sobre as boas opções de comidas de rua, bares e lanchonetes, veteranas ou recém-inauguradas na cidade.

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