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Blog do João Renato

Roça Grande: o interior de Minas tratado com respeito

João Renato

21/08/2018 15h29

O salão da casa remete aos armazéns do interior de Minas (Foto: João Renato Faria)

Enquanto completava a sua formação em gastronomia, a chef Mariana Cristina Gontijo, de 34 anos, conciliou as panelas com a sempre complicada vida na advocacia. No ano passado, decidiu dar um basta ao mundo jurídico e se dedicar de corpo e alma à criação de um lugar que tivesse como objetivo resgatar receitas, técnicas e sabores de sua infância, vivida na pequena cidade de Moema, na região Centro-Oeste de Minas Gerais, além de valorizar os pequenos produtores locais.

Foi assim que surgiu o Roça Grande, mistura de armazém, lanchonete, restaurante e quitanda, bem ao estilo dos estabelecimentos das cidades pequenas. Adentrar o estabelecimento já é uma experiência, já que a sensação é de deixar a cidade grande para trás (a casa fica em uma das ruas mais movimentadas da cidade) e se deparar com uma espécie de embaixada do interior de Minas. Um balcão imenso de madeira, equipado com uma caixa registradora, uma balança analógica e um baleiro de vidro contribuem para essa viagem sensorial. Uma estante armazena compotas, queijos, doces, manteiga e carne de lata, todos com "procedência de origem" de fazendas e sítios mineiros – e que podem ser comprados e levados para a casa.

Além da decoração caprichada, o cuidado da chef com os detalhes aparecem também no cardápio. Ele é todo escrito à mão, de um jeito que lembra os antigos livros de receita das mães e avós mineiras. Todas as opções são receitas de família ou de amigos próximos.

O cardápio é delicado e escrito à mão (Foto: João Renato Faria)

"Eu quis, com o Roça Grande, não só valorizar os pequenos produtores, mas também resgatar e difundir técnicas e receitas que são típicas do interior, mas que não têm registro formal", conta Mariana. Por isso, o pão de queijo da casa (R$ 5) , por exemplo, usa polvilho artesanal, feito pela família da chef, ovo caipira, manteiga caseira e queijo de Araxá – nada de óleo de soja aqui. Já o molho de pimenta da casa conta com uma combinação de cumari e pimenta de bode, curtidas tanto no óleo quanto no vinagre, o que faz com que ele mantenha o aroma sem perder em ardência.

As quitandas também seguem a linha. Entre as opções feitas na casa estão a broa com queijo (R$ 4, fatia), que usa fubá moído em moinho d'água e queijo artesanal, e o biscoito de polvilho frito (R$ 2,50, unidade), que exala o interior mineiro a cada mordida. O bolo de cenoura (R$ 4, fatia) leva um ganache de cachaça e mel. Já o café (R$ 4,50) é passado individualmente, em coadores de pano.

A coxinha é frita na hora e chega à mesa sequinha e crocante (Foto: João Renato Faria)

Entre os poucos produtos industrializados está o refrigerante Pon Chic (R$ 4,50, 300 ml), clássico produzido em Divinópolis, na mesma região de onde veio a chef, e que é servido em copos de metal. Com gostinho de infância, ele faz uma excelente companhia para a coxinha de galinha caipira com requeijão (R$ 7). Ela só sai frita na hora, o que demora cerca de 20 minutos. A espera – que nem é tanta, vamos combinar – vale a pena. O salgado chega à mesa quentinho e crocante.

O recheio é cremoso e bem temperado (Foto: João Renato Faria)

O recheio chama atenção pelo contraste com o alaranjado típico das coxinhas industrializadas. Aqui ele é escuro, mole e temperado à perfeição. O insosso catupiry dá lugar a um naco de requeijão da roça, que derrete durante o preparo e contribui para a cremosidade. Por fim, a massa leva, no seu preparo, o caldo da galinha usada no recheio, o que garante a cor e reforça o sabor marcante da coxinha, que é uma das melhores da cidade.

Tudo isso ainda conta com a simpatia da chef Mariana, que emenda os tais dois dedinhos de prosa com todo mundo que entra no seu empório, como se já fossem velhos conhecidos. Aproveite a chance para pedir as receitas – ela passa sem problemas.

Vai lá
Roça Grande
Rua dos Timbiras, 1944
(31) 99119-4739

Sobre o autor

João Renato Faria é jornalista de Belo Horizonte, atualmente no jornal O Tempo, e com passagens por Portal Uai, Estado de Minas e revista Veja BH. Gosta de descobrir novidades gastronômicas pela cidade, de música pesada, de rock instrumental e novidades da cena independente. Tem a compulsão de comprar livros mais rápido do que consegue lê-los. Já pensou em se mudar de BH, mas por enquanto a cidade é o único lugar com um feijão-tropeiro decente.

Sobre o blog

A música e a gastronomia de Belo Horizonte são o foco do blog. Os posts abordam tendências sonoras, eventos, atividades de casas de shows e a movimentação da cena independente. Os textos também falam sobre as boas opções de comidas de rua, bares e lanchonetes, veteranas ou recém-inauguradas na cidade.

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