Grafite e iniciativas marcam a revitalização de bairro boêmio de BH
João Renato
07/05/2019 13h43
Arte urbana ajuda a revitalizar a Lagoinha (Foto: Rodrigo Clemente/PBH)
A Lagoinha é, há muito tempo, um dos bairros mais maltratados de Belo Horizonte. Próxima à cracolândia da cidade, cortada por um sistema de viadutos horrendos e completamente desfigurada, a vizinhança nunca teve a atenção que merecia. Felizmente, isso vem mudando, ainda que aos poucos. Uma das provas é que a região recebeu, na última semana, mais uma etapa do Movimento Gentileza, que levou artistas para criar murais de grafite na região.
Desta vez, os mineiros Gabriel Dias, João Gabriel e Clara Valente se juntaram à italiana Alice Pasquini – que visitou Belo Horizonte à convite do Consulado da Itália – para colorir a passarela que liga o bairro ao centro. As artes urbanas são inspiradas em temas como a natureza e os imigrantes que ajudaram a construir a vizinhança. Os murais se juntam aos produzidos por outros cem artistas no entorno do conjunto IAPI, que pintaram mais de 1.200 metros de muro no último mês de março.
Os grafites são um alívio necessário à paisagem do bairro. Criada junto da capital, a Lagoinha inicialmente tinha uma vocação operária, abrigando a mão de obra que ergueu a cidade. Mas logo abraçou um lado boêmia, com diversos bares, casas noturnas, prostíbulos e encontros de grupos de samba se aglomerando em volta da praça Vaz de Melo. Não é por acaso que o copo chamado "americano" no resto do país, preferido dos bebedores de cerveja, seja chamado justamente de copo lagoinha em Belo Horizonte. Outra fama do bairro são os excelentes antiquários, localizados principalmente na rua Itapecerica, via principal da região.
A antiga praça Vaz de Melo era o ponto de convergência da Lagoinha (Foto: Arquivo MHAB)
Mas a proximidade com o centro da cidade acabou se tornando uma maldição para a Lagoinha, que, nos anos 1960, viu a praça e boa parte dos arredores ir abaixo para dar espaço para a abertura de viadutos, para ligar o resto da cidade à Pampulha. A intervenção destruiu a praça Vaz de Melo e acabou decretando a decadência da vizinhança, sufocada pelo trânsito absurdo. A situação se deteriorou ao longo das décadas, com imóveis sendo abandonados e a região ganhando a fama de ser perigosa. Sempre debatida, a revitalização nunca saia do papel.
Os belos grafites feitos no bairro parecem ser somente o começo de um processo mais profundo de reformulação do local. Os murais se somam a diversas outras iniciativas também deixam claro que, mesmo com o cenário desfavorável, a Lagoinha ainda resiste – e pulsa. Um dos exemplos é o Órbi Conecta. Financiado por grandes empresas, o espaço colaborativo reúne dezenas de startups e tem levado gente nova para a região, principalmente jovens antenados com tecnologia e inovação.
Camarão com tacacá é receita do restaurante Pra'tu da Amazônia (Foto: Divulgação)
A gastronomia também tem puxado as lista de mudanças na Lagoinha, como o restaurante dedicado à culinária do Norte do país Pra'tu da Amazônia. Quase secreto, ele funciona em uma casa e só atende por reservas. Os sortudos que conseguem um lugar se deliciam com opções como pato no tucupi, camarão no tacacá e unha de caranguejo. Outro espaço que também só funciona sob reserva é o bistrô Armazém N° Oito, que prepara pratos de culinária fusion asiática com ingredientes sazonais. Como a cozinha comandada pelo chef Miller Machado costuma receber muitos grupos e eventos fechados, é um pouco difícil conseguir um encaixe na agenda, mas vale a pena insistir.
Vai lá
Pra'tu da Amazônia
Rua Além Paraíba, 963, Lagoinha
Reservas: (31) 99410-9131
Armazém Nº Oito
Rua Francisco Soucasseaux, 8, Lagoinha
Reservas: (31) 99529-2196
Sobre o autor
João Renato Faria é jornalista de Belo Horizonte, atualmente no jornal O Tempo, e com passagens por Portal Uai, Estado de Minas e revista Veja BH. Gosta de descobrir novidades gastronômicas pela cidade, de música pesada, de rock instrumental e novidades da cena independente. Tem a compulsão de comprar livros mais rápido do que consegue lê-los. Já pensou em se mudar de BH, mas por enquanto a cidade é o único lugar com um feijão-tropeiro decente.
Sobre o blog
A música e a gastronomia de Belo Horizonte são o foco do blog. Os posts abordam tendências sonoras, eventos, atividades de casas de shows e a movimentação da cena independente. Os textos também falam sobre as boas opções de comidas de rua, bares e lanchonetes, veteranas ou recém-inauguradas na cidade.