Vencedor do Comida di Buteco BH é vegano. E tudo bem
João Renato
28/05/2019 18h06
Há exatos dez dias, o assunto nas mesas de bares de Belo Horizonte não é outro senão o vencedor da 20ª edição do Comida di Buteco. Também, pudera: pela primeira vez na história, o concurso deu o troféu para um prato vegano, sem nenhum ingrediente de origem animal. A receita campeã, criada pelo Tanganica Art Bar, consiste em rolinhos empanados de berinjela, recheados com cogumelos funghi e shitake, acompanhados de pururuca e molho madeira veganos.
Segundo lugar: o "bolo de bacon" do Já Tô Inno era apontado como possível campeão (Foto: Comida di Buteco/Divulgação)
Por outro ângulo: o petisco campeão do Tanganica (Foto/Divulgação)
O petisco campeão na foto oficial do concurso: nenhum ingrediente de origem animal (Foto: Comida di Buteco/Divulgação)
O prato – batizado como "vegano di buteco" – acabou desbancando o favorito Já Tô Inno e seu bolo de bacon (oficialmente, o nome do petisco é "20 V"), um assado de batata com costela, coberto por uma generosa camada de bacon em fatias, acompanhado de creme de queijo com alho poró, que levou o segundo lugar. Em terceiro, levou a Uma surpresa, sem dúvidas – eu mesmo estava apostando na canela de porco do buteco do Lili, que não ficou nem no pódio.
Foi o que bastou para desencadear a fúria dos botequeiros, tanto nas redes sociais quando no mundo real. Os mais exaltados criticaram o mecanismo de votação do concurso, que daria muito poder para os jurados, e acusam até a organização de "marmelada", ou fraude mesmo. Outros lamentaram a derrota do favorito, embalado por uma glamourização do bacon que perdura até hoje. E a maioria atacou a ausência de carne no tira-gosto, apontando uma falta de "graça" na receita.
Também não foram poucos que mostraram um preconceito e até uma certa arrogância, dizendo que vegetarianismo e veganismo "não combinam" com boteco, se esquecendo que batata frita, azeitona, amendoim, jiló, bolinho de arroz e mandioca, só para ficar em alguns clássicos de botequim, não são carne.
Por outro ângulo: o petisco campeão do Tanganica (Foto/Divulgação)
Torcer pelo bar favorito, lamentar se ele não venceu, achar que outro petisco tinha que ser o campeão, é do jogo. Criticar o resultado por puro preconceito, sem ir experimentar o tira-gosto vencedor, não dá. E foi curioso que praticamente nenhuma das críticas começava com "fui ao Tanganica e provei o petisco". Ou seja, tem faltado bom senso e sobrado ignorância
Segundo lugar: o "bolo de bacon" do Já Tô Inno era apontado como possível campeão (Foto: Comida di Buteco/Divulgação)
Em um concurso sem ingrediente obrigatório, o Tanganica fez uma aposta ousada. Se diferenciou pela falta de carne, conquistou o público vegetariano, cada vez maior, e se deu bem. Além disso, o que importa, no fim das contas, não é se tem carne ou não no tira-gosto: é o sabor. E se os jurados e o público que frequentaram o bar durante o concurso deram nota máxima nesse quesito, é porque alguma coisa ele tem.
Por isso, fica a sugestão: vá ao vencedor. Mas vá de peito aberto, sem preconceito. Peça, experimente, veja se o rolinho de berinjela com cogumelos desce bem com uma cervejinha. E só aí estufe o peito para dar a sua opinião. Aviso: você pode se surpreender.
Vai lá
Tanganica Art Bar
Rua Padre Demerval Gomes, 380, Coração Eucarístico
(31) 3376-7047
Já Tô Inno
Rua Benjamin Dias, 379, Barreiro
(31) 3384-1198
Bar du Du
Rua Violeta, 369, Esplanada
(31) 3646-1551
Buteco do Lili
Rua Líbero Badaró, 493, Dona Clara
(31) 3582-5246
Sobre o autor
João Renato Faria é jornalista de Belo Horizonte, atualmente no jornal O Tempo, e com passagens por Portal Uai, Estado de Minas e revista Veja BH. Gosta de descobrir novidades gastronômicas pela cidade, de música pesada, de rock instrumental e novidades da cena independente. Tem a compulsão de comprar livros mais rápido do que consegue lê-los. Já pensou em se mudar de BH, mas por enquanto a cidade é o único lugar com um feijão-tropeiro decente.
Sobre o blog
A música e a gastronomia de Belo Horizonte são o foco do blog. Os posts abordam tendências sonoras, eventos, atividades de casas de shows e a movimentação da cena independente. Os textos também falam sobre as boas opções de comidas de rua, bares e lanchonetes, veteranas ou recém-inauguradas na cidade.