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Café Nice: a resistência tem sabor de ameixa e coco

João Renato

07/08/2018 13h55

Café Nice está há quase 80 anos no mesmo imóvel

Apesar da constante e implacável descaracterização do centro de Belo Horizonte, ainda é possível capturar aqui e ali alguns vislumbres do passado, que não só resistem, como mantêm um charme de décadas passadas. Um desses lugares é o Café Nice, cravado no mesmo imóvel na Praça Sete desde 1939 – ou seja, é praticamente octagenário.

Decorado com fotos de frequentadores históricos, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek, o pequeno salão não tem mesas nem cadeiras. É lugar de encostar no balcão e comer em pé, acompanhando o ritmo apressado do centro. Entre os frequentadores estão os idosos que "batem ponto" na Praça Sete, onde comentam sobre futebol, política e, principalmente, a vida dos outros. Mas o público é variado e diversificado.

Afixado em uma das paredes, o cardápio parece não ter sofrido nenhuma alteração nos últimos 40 anos. Estão lá opções para alegrar uma manhã, como o ovo quente (R$ 2,70) – que está no cardápio desde o dia da inauguração – e o café com leite (R$ 2,80). O chá mate gelado (R$ 5), forte e intenso, fica naquelas máquinas de refresco usadas em lanchonetes. Servido em um copão, é um alívio em dias mais quentes.

Frapê de coco: gelado, delicioso e aveludado

É na refresqueira que também fica um dos destaques do Café Nice: o frapê de coco (R$ 5). A receita, claro, é secretíssima. Mas um paladar mais ou menos apurado pode perceber que leva leite, leite de coco, leite condensado e coco ralado. Este último é adicionado na medida certa, e não deixa a bebida "crocante", como aqueles pavorosos milk-shakes de ovomaltine. Óbvio que a mão da cozinheira que prepara a pedida faz a diferença, mas uma combinação dessas, que é servida gelada, só pode resultar em uma bebida doce, aveludada e de sabor suave, mas marcante.

Outro achado imperdível é o creme de maizena com ameixa (R$ 4,20). A receita, que também é guardada a sete chaves, é um clássico das cozinhas do início do século XX que resistiu ao tempo. Servido em potinho individual, tem consistência mais firme do que um mingau, mas não chega a ser rígido como um pudim. O creme em si tem sabor suave e discreto, deixando para a calda de ameixa a responsabilidade de adocicar e dar gosto à receita.

Creme com ameixa: sobremesa com gosto de receita da vovó

Tem gostinho de sobremesa da vovó, com todos os méritos que isso implica, e pode ser uma ótima sobremesa após um kaol no também tradicional Café Palhares, que fica na mesma região. Se for experimentar, vale chegar cedo, já que não é raro as unidades acabarem ainda no meio da tarde.

Em tempo: Lá não são aceitos cartões de nenhuma espécie, só dinheiro.

Vai lá

Café Nice
Avenida Afonso Pena, 727, centro
31 3222-6924

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Sobre o autor

João Renato Faria é jornalista de Belo Horizonte, atualmente no jornal O Tempo, e com passagens por Portal Uai, Estado de Minas e revista Veja BH. Gosta de descobrir novidades gastronômicas pela cidade, de música pesada, de rock instrumental e novidades da cena independente. Tem a compulsão de comprar livros mais rápido do que consegue lê-los. Já pensou em se mudar de BH, mas por enquanto a cidade é o único lugar com um feijão-tropeiro decente.

Sobre o blog

A música e a gastronomia de Belo Horizonte são o foco do blog. Os posts abordam tendências sonoras, eventos, atividades de casas de shows e a movimentação da cena independente. Os textos também falam sobre as boas opções de comidas de rua, bares e lanchonetes, veteranas ou recém-inauguradas na cidade.

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