Nonô – O Rei do Caldo de Mocotó: vida longa à sua majestade
Em uma Belo Horizonte que dorme cada vez mais cedo, um bar que funciona 24 horas e tem como carro-chefe e praticamente única opção de comida um caldo espesso, forte e quente, feito à base de uma das partes menos nobres do boi. Parece improvável, mas essa é a receita de sucesso do Nonô, que funciona no centro da capital mineira desde 1964 e, não por acaso, se auto-intitula o rei do caldo de mocotó.
O salão é simples e consiste em um corredor com um balcão. Mesmo uma reforma recente, que nivelou o piso entre as entradas da avenida Amazonas e da rua Tupis, não tirou o seu charme; pelo contrário, deixou o atendimento mais prático e rápido. Não existem mesas ou cadeiras, e o cliente come ali mesmo, escorado no balcão.
O ambiente é dominado pelo cheiro forte e marcante do caldo. Ele é servido em canecas de cerca de 400 ml, com duas opções: simples (R$ 9,40) ou completo (R$ 10), quando ganha acréscimo de cebolinha e dois ovinhos de codorna, que os mais experientes costumam deixar cozinhar lentamente no próprio calor do líquido. Quem quiser mais ovos pode pedir o acréscimo, a R$ 0,30 a unidade. O normal são mais dois ovinhos, mas convém não exagerar e correr o risco de transformar o caldo em uma omelete. Outra boa companhia para o pedido é o pão francês fatiado (R$ 1,20), que pode ajudar a sorver o líquido.
Não é boa escolha para paladares mais sensíveis, já que o sabor é bastante pronunciado. Cozido lentamente, o mocotó chega na caneca no ponto certo, sem estar borrachudo. Os ovinhos de codorna ajudam a dar uma certa "liga", mas é o colágeno do mocotó que pode dar, para algumas pessoas, a sensação de adstringência – o que faz parte do charme da receita. Para ajudar a soltar a boca, a pedida tradicional é uma cerveja preta Caracu (R$ 6, 350 ml). O bar, inclusive, é um dos que mais vende o rótulo da Ambev no país. A morena ajuda também a combater o inevitável calor que sobe de dentro do peito após o cliente tomar uma caneca, já que o molho de pimenta da casa é dos mais nervosos da capital mineira.
Uma placa no balcão até lista outras poucas opções de tira-gosto, como a língua de boi (R$ 7) e a almôndega (R$ 5,50), que ficam abrigados em uma estufa. Mas são meras distrações, diante do grande campeão de pedidos. Em dias mais movimentados, a cozinha chega a servir até 600 canecas do caldo.
A receita atraiu até Anthony Bourdain, quando o saudoso chef visitou a cidade para o seu programa "Parts Unknown", em 2016. Na ocasião, foi improvisada uma mesa com engradados de cerveja na calçada para recepcionar o visitante ilustre, que experimentou – e aprovou – o caldo.
O fato de abrir de madrugada é outro diferencial. O pico do atendimento, inclusive, costuma ser depois da meia-noite, quando notívagos, taxistas, jornalistas, músicos (Paulo Xisto, do Sepultura, é frequentador assíduo) e demais boêmios de plantão batem ponto no bar. A casa fecha apenas aos domingos, entre a meia-noite de sábado e as 6h da manhã da segunda-feira.
Vai lá
Nonô – O Rei do Caldo de Mocotó
Avenida Amazonas, 840 – Centro
(31) 3212-7458
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