Polarização política inspira novos bares em BH
Esqueça o Congresso. A arena política ideal e preferida dos brasileiros sempre foi a mesa do bar. Normalmente intensos e embalados por mais uma dose, os debates tinham a efemeridade de uma espuma de cerveja no copo e normalmente terminavam, sem muitas conclusões, quando o garçom passava avisando que estava fechando. Como diria o Skank, "sem perder a cabeça, sem perder a amizade".
Eram tempos mais simples, sem dúvidas. Pouco importava, por exemplo, em que o dono do bar havia votado – desde que a cerveja fosse gelada. Mas com a crescente polarização da sociedade brasileira, a discussão política vem causando uma divisão profunda. O resultado disso, pelo menos em Belo Horizonte, é a criação de bares temáticos sobre política.
O mais recente deles é O Destro Bar, que se autointitula "o primeiro bar de direita do Brasil". Na decoração, fotos de Rocky Balboa, que venceu o soviético Ivan Drago no filme "Rocky 4" e outros ícones do liberalismo, como os ex-primeiros ministros ingleses Winston Churchill e Margareth Thatcher, e o ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan.
A cozinha abraça o termo "coxinha" e prepara oito versões do salgado, como uma que conta com recheio de pernil e é empanada na farinha de torresmo. Outra marca da direita que foi adaptada pelo bar é a frase "imposto é roubo", que virou uma promoção. Às terças, vários produtos são vendidos com o valor da carga tributária descontado.
A inauguração, no último fim de semana, não foi sem alguma polêmica. A data, próxima ao aniversário do golpe de 1964, acabou sendo incluída em uma espécie de celebração informal da derrubada de João Goulart do poder.
O contraponto na cidade foi batizado de Ursal Bar, inaugurado em janeiro. O nome é inspirado em uma teoria da conspiração bizarra divulgada pelo então candidato à Presidência da República Cabo Daciolo, que diz que existe um plano secreto comunista para a criação da União das Repúblicas Socialistas da América Latina. Localizado no bairro Santa Tereza, é uma espécie de antítese do O Destro. Nas paredes, estrelas vermelhas e quadro de Che Guevara, ícone da esquerda, além, óbvio, do ex-presidente Lula.
O cardápio lista drinques como o Fora Temer, que leva limão capeta, mel e cachaça, e pratos como o Olga Benário, uma berinjela assada recheada de legumes. As polêmicas também estão presentes. O bar tem convivido com vizinhos que, por discordarem da linha política, têm feito denúncias de barulho para a prefeitura.
Tudo muito bom, tudo muito bem. Em tempos de racha profundo na sociedade, parece justo que, quando for relaxar, a pessoa prefira estar entre os seus. Mas é uma pena que a mesa do bar, outrora tão democrática, esteja deixando essa vocação de palco de debates para virar uma conversa onde todo mundo só ouve e convive com quem pensa igual.
Vai lá
O Destro Bar
Rua Pium-Í, 787, Cruzeiro
Ursal Bar
Rua Dores do Indaiá, 114, Santa Tereza
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